segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ah, o carnaval!


Chegando o Carnaval... Mas antes que ele chegue para nos banharmos em alegria passageira, muita coisa está acontecendo por aí, e não são nada agradáveis – pelo menos para aqueles que se identificam com os oprimidos.
O revolucionário argentino Ernesto Che Guevara chegou a dizer: “se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros!” Ah se somos! Não consigo ver injustiças e fingir que nada está acontecendo. Não apenas tremo de indignação, mas fico triste não somente com os fatos em si, mas também como um ser humano é capaz de justificar atos tão cruéis e desumanos. O fato em questão é a reintegração de posse da comunidade Pinheirinho em São José dos Campos, São Paulo. Não somente, ainda em São Paulo, no bairro da Luz a famosa “cracolândia” foi dissipada não pelo intensivo trabalho de saúde pública, mas de (in)segurança pública. Os governos municipais e estaduais recuperam (sem falar explicitamente, mas as intervenções dizem por si mesmas) a máxima de “questão social é caso de polícia”. No caso Pinheirinho, a preocupação maior é com um “empresário-trambiqueiro” (com o perdão do pleonasmo) que quase faliu até a Bolsa de Valores do RJ. Em vez de se preocupar com as inúmeras famílias ali instaladas e buscar uma saída da maneira coerente, opta-se por remover aquela população sem ao menos ter uma solução já pronta. Não foi diferente no caso “cracolândia”.
Se a primazia da repressão policial se resumisse as gestões do PSDB, seria algo compreensível por se tratar de um partido destacadamente antipopular. Em Pernambuco o Governo de Eduardo Campos (do PSB) reprimiu violentamente as manifestações contra o aumento das tarifas de ônibus metropolitano. Se uma pessoa hipoteticamente tivesse entrado em coma na década de 60 do século passado e acordasse agora em janeiro de 2012 simplesmente se perguntaria: como assim? Para refrescar a memória política (que no Brasil é algo quase que obsoleto, propositalmente) o Partido Socialista Brasileiro (PSB) contribuiu para a organização das lutas camponesas, principalmente através de Francisco Julião, que ousava bradar “reforma agrária na lei ou na marra!”. A burguesia se arrepiava com a firmeza política das Ligas Camponesas. Portanto, é algo bizarro crer que esse mesmo partido se degenerou a tal ponto que não foi suficiente se dissolver na ordem, mas para piorar, a linha política do PSB hoje é algo tão firme quanto castelos de areia em pleno vendaval. O PSB nos tempos atuais dialoga com figuras do calibre de Aécio Neves (PSDB), Inocêncio Oliveira (PR), Severino Cavalcanti (PP), e Paulo Skaf (hoje PMDB, há poucos anos atrás PSB), presidente da FIESP.
Creio que nossa pátria mãe continua tão distraída que ainda não percebeu que permanece sendo subtraída em tenebrosas transações, a miopia talvez se deva ao fato de que antes eram os setores mais conservadores da sociedade, atualmente são os “democrático-populares” que a enganam.
Mas não precisamos nos preocupar com nada disso, afinal, não mudaremos o mundo, tampouco acabaremos com as injustiças sociais, muito menos revogar um aumento de passagem. Se assim caminha a humanidade, para a total descrença nas ações políticas, a herança que deixaremos é de um caminho cada vez mais solidificado para um mundo sob a completa barbárie. E se de nada adianta fazer algo para transformar a realidade, vibremos com os gols de nossos clubes de futebol queridos e esperemos ansiosamente para os quatro dias do ano mais aguardados. Enquanto isso o povo brinca com confetes e serpentinas ao som do frevo, maracatu, samba e muito mais. “E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz, uma ofegante epidemia que se chamava o carnaval” (Chico Buarque - Vai passar). Carnaval, carnaval! Nesse país “mulato inzoneiro” carnaval é produto que comercializamos bem. Mas não se esqueçam que esse carnaval nem é tão democrático assim: “apesar de ter criado o toque do agogô fica de fora dos cordões do carnaval de salvador” (Natiruts – Palmares 1999). Se não entendeu a imagem a seguir ilustra bem. 
Clique na imagem para ampliar.
Pernambucanos irão logo retrucar afirmando que nosso carnaval, esse sim, é verdadeiramente democrático. Mas se esquecem que aqui também existem camarotes (principalmente no Bloco Galo da Madrugada). Tudo bem, aceito a ideia de que o carnaval de Pernambuco é o mais próximo possível do que se espera de uma festa democrática, até porque numa sociedade de classes não era de se esperar outra coisa, senão a separação entre as classes. (para uma análise desmistificadora do carnaval de Pernambuco clique aqui)
Para concluir essa crônica, que já se alongou além do que eu gostaria: os barões continuam famintos, e o carnaval permanece nos sedando por pelo menos quatro dias. Só não quero me enganar que as mudanças são impossíveis. Além de possíveis elas são necessárias. 

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