quarta-feira, 18 de maio de 2011

Prólogo para mais um blog na internet ou primeiras mediações críticas


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Prólogo para mais um blog na internet ou primeiras mediações críticas
Por Alcides Campelo A. Junior
Considerações preliminares
Os homens e as mulheres se distinguem dos outros animais por uma série de fatores, Friederich Engels descreve um pouco como se deu O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem (Escrito em 1876, acesse o texto na íntegra aqui) da seguinte forma: "Primeiro o trabalho, e depois dele e com ele a palavra articulada, foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi-se transformando gradualmente em cérebro humano — que, apesar de toda sua semelhança, supera-o consideravelmente em tamanho e em perfeição. E à medida em que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também seus instrumentos mais imediatos: os órgãos dos sentidos. Da mesma maneira que o desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro está ligado ao aperfeiçoamento de todos os Órgãos dos sentidos"(grifos nossos), e continua em outro parágrafo do mesmo texto: "O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento. Quando o homem se separa definitivamente do macaco esse desenvolvimento não cessa de modo algum, mas continua, em grau diverso e em diferentes sentidos entre os diferentes povos e as diferentes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos de caráter local ou temporário, mas avançando em seu conjunto a grandes passos, consideravelmente impulsionado e, por sua vez, orientado em um determinado sentido por um novo elemento que surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade". 

É nítido que Engels atribui peso significativo ao trabalho como a categoria fundante do ser social, pois através desta atividade que o homem pode transformar a natureza e a si mesmo. Cabe ressaltar que tanto Engels quanto Karl Marx pressupõem trabalho não como as formas instintivas dos animais, mas sim algo exclusivo ao gênero humano, num processo entre este e a natureza. Diante do exposto é válido apresentar uma famosa passagem de Marx n'O Capital: "Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele constrói o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural, o seu objetivo. [...] Os elementos simples do processo de trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios. [...] O processo de trabalho [...] é a atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a natureza, condição eterna da vida humana e, portanto, [...] comum a todas as suas formas sociais" (Apud Netto & Braz, 2007: 31-32). 
Pinturas rupestres, forma primitiva de comunicação. Crédito: http://www.dteixeira.com/design/comunicacao-ate-dias-de-hoje.html
Após essa longa - mas necessária - citação, poderíamos nos perguntar: -"e a comunicação nisso tudo aí?" Voltemos à primeira citação (a de Engels) e está em destaque que a palavra articulada também foi primordial no processo evolutivo do macaco em homem. Se destacamos anteriormente que o trabalho humano transforma a natureza e também o próprio homem, é necessário destacar que há aí um processo de aprendizado, de conhecimentos incorporados, esse saber para ser coletivo é preciso de um processo de interação entre seres humanos, e de que forma isso é possível? Através de um sistema de comunicação, "[...] que não deriva de códigos genéticos, uma vez que se relaciona a fenômenos que não se configuram como naturais, mas a fenômenos surgidos no âmbito do ser que trabalha - por isso, o trabalho requer e propicia a constituição de um tipo de linguagem (a linguagem articulada) que, além de aprendida, é condição para o aprendizado. Através da linguagem articulada, o sujeito do trabalho expressa as suas representações sobre o mundo que o cerca" (Netto & Braz, 2007: 33, grifos dos autores). Observemos que os autores detalham, com suas palavras, o que Engels escreveu em 1876.
Diante disso, fica explícito os papeis preponderantes tanto do trabalho quanto da comunicação para a formação do ser social.
"Quem não se comunica se trumbica"
Todas essas considerações preliminares fazem com que nos situemos para o que descreverei a partir de então – explicitamente a importância da comunicação e os objetivos do blog. Um bordão clássico de uma figura clássica da televisão brasileira (Chacrinha) enfatiza que "quem não se comunica se trumbica". Em nossas vidas percebemos o quão importante é a comunicação, ou experimenta deixar de se comunicar (não só por meio da fala, mas também da linguagem escrita) numa cidade na qual você não conhece para perceber os problemas que você irá se deparar.
Cena "Aurora do homem" do filme 2001: uma odisséia no espaço. Foto Extraída do site http://www.opperaa.com/679-a-odisseia-no-espaco.html
Já vimos que a comunicação é processo imprescindível para a socialização dos saberes, numa clara constituição de cultura. Em um salto histórico – assim como na cena do filme 2001: uma odisséia no espaço (cena intitulada: a aurora do homem) em que o hominídeo após perceber que dos ossos de outros animais poderiam lhe servir de ferramenta tanto para a caça quanto para defesa, após briga entre dois grupos, o que já detinha ossos como um instrumento de defesa levou a melhor, e ao arremessar o pedaço de osso para cima a cena dá lugar a imagem do que parece ser um satélite, um nítido salto qualitativo da tecnologia, que aquela primeira experiência humana foi impulsionadora, não é a toa que essa outra cena se chama "da terra à lua” – das primeiras formas de tecnologia ao que se tem hoje, percebe-se que, de fato, estamos permanentemente não só transformando a natureza, bem como a nós mesmos, e evoluindo (através do trabalho) de forma espetacular.
Modos de produção, comunicação e ideologia
Para não deixar de fora alguns elementos importantes para a compreensão dos meios de comunicação e, principalmente, o papel que exerce. Acredito ser de fundamental importância a seguinte compreensão: "As ideias das classes dominantes são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante" (Marx & Engels, 2009: 67). Fica claro aqui que se trata de analisar as sociedades a partir das suas relações sociais de produção, se dizendo qual é o modo de produção ("diga-me com quem andas") se dirá qual são as classes sociais fundamentais ("que te direi quem és"). Essa classe dominante "na medida, portanto, em que dominam como classe e determinam todo o conteúdo de uma época histórica, é evidente que o fazem em toda sua extensão e, portanto, entre outras coisas, dominam também como pensadores, como produtores de ideias do seu tempo; que, portanto, as suas ideias são as ideias dominantes da época" (Idem, Ibidem). Como ilustração disso, na mesma obra os autores ressaltam que "durante o tempo em que dominou a aristocracia dominaram os conceitos honra, lealdade, etc., durante o domínio da burguesia dominaram os conceitos liberdade, igualdade, etc.". De maneira que ainda vivemos sob o domínio da burguesia, é fácil notar que os conceitos apresentados por Marx e Engels referentes às ideias do domínio da burguesia ainda são válidas. Mas entendendo que a realidade é dinâmica - Conforme Heráclito, pensador grego pré-socrático: "tudo o que é estar deixando de ser; e a vida é um vir-a-ser permanente" (extraído do livro atualidade do marxismo, autoria de Zuleide Faria de Mello) -, obviamente que essas ideias se reatualizam, fundem-se com outras, surgem novos elementos.
Ao compreendermos que o domínio da classe dominante se dá no campo das ideias, e se utilizam "em toda sua extensão" para garantir que suas ideias permaneçam como supostamente de interesse universal, e se pensarmos isso do presente momento em que vivemos, pode-se, então, inferir que os principais meios de comunicação existentes são utilizados como importantes difusores da ideologia dominante. No estágio monopolista do capitalismo, fica cada vez mais difícil espaços de contra-hegemonia, já que o grande capital detêm os principais meios e veículos de comunicação, e cada vez mais de forma massificada. Os valores, princípios, enfim, as ideias dominantes da classe burguesa possui armas de extrema relevância para perpetuação de seu domínio. 
Para entender tal fato basta se perguntar quantas vezes é comentado sobre o papel importante da organização da classe trabalhadora na luta por direitos? Quantas passeatas ou outros atos de protestos são mostradas? Detalhe, quando são, é com o objetivo de criminalizar e/ou deturpar tais movimentos. Mas pensemos bem, você acha mesmo que vão mostrar a realidade como ela é? É preciso, então, ir além das aparências dos fenômenos, das notícias veiculadas pela "grande mídia"! 
Mauro Iasi em artigo intitulado "Ideologia...quer uma para viver?" , com base, principalmente, na Ideologia Alemã de Marx diz o seguinte: "[...] nos parece que o conceito de ideologia em Marx é inseparável dos seguintes elementos: a) ideologia pressupõe uma relação de dominação, uma relação na qual a classe dominante expressa essa dominação em um conjunto de ideias; b) ideologia pressupõe inversão, velamento da realidade, naturalização das relações de dominação e, daí, sua justificação; c) ideologia, pressupõe, finalmente, a apresentação de ideias e concepções de mundo particulares como sendo universais" (Iasi, 2011: 80-81). Iasi se utiliza dessa fundamentação nesse texto para fins de afirmar que não existe uma "ideologia proletária", não no sentido de "conjunto de ideias dos trabalhadores contra a as ideias burguesas", ela existe como uma forma de domínio, de velamento da realidade, o exemplo citado pelo autor como forma mais clara disso (sem se restringir a tal) foi o estalinismo. Apesar de alguns autores da tradição marxista utilizar o termo "ideologia proletária" como conjunto de ideias contra as ideias da burguesia, Iasi justifica que isso se dá pelo fato de que "apesar de terem escritos os manuscritos daquilo que seria A ideologia alemã por volta de 1845 e 1846, esse trabalho de Marx e Engels só foi publicado muitos anos depois do período no qual Gramsci, Lenin e outros escreveram seus estudos" (Idem, Ibidem: 83).
Mas o que pretendo falando disso? Primeiramente deixar nítido que aqueles que desejam se utilizar de ferramentas para constituir-se contra-hegemônica (como meios de comunicação), não pode achar que está fazendo "ideologia proletária", e sim anti-ideologia. Segundo, que o presente blog Mediações Críticas em maior ou menor grau pretende fazer esse trabalho contra-hegemônico, até mesmo quando estiver em pauta o futebol. Pois até mesmo aí podemos encontrar elementos ideológicos, quando, por exemplo, não se questiona o motivo pelo qual há uma certa superioridade dos times de São Paulo/Rio de Janeiro/Minas Gerais/Rio Grande do Sul (Eixo sul-sudeste) em relação aos clubes das demais regiões.
Objetivos do blog Mediações Críticas
Parece-nos ficar evidente que a comunicação tem influência estratégica para a classe dominante. Mas também para as classes dominadas, mesmo que encontre inúmeras dificuldades para exercer essa contra-ofensiva. Em tempo de internet se consolidando cada vez mais, se viu a importância de redes sociais como elementos de mobilização da juventude contra regimes opressores e ditatorias. Todavia, cabe ressaltar que "o mundo virtual" não pode nem deve sobressair-se ao "mundo real". 
Credito: http://andrelemos.info/
Diante disso, os objetivos são compartilhar reflexões diversas, através de ensaios, artigos, crônicas, poemas ou de qualquer outra maneira - o mais importante é o conteúdo. Abordarei temas diversos, principalmente sobre realidade local, nacional e mundial, política, música e futebol. Sempre buscando ir além do aparente, portanto, mediações, que serão assaz críticas.
Referências bibliográficas
ENGELS, Friederich. O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem. Conferir
o site Arquivo Marxista na Internet: http://www.marxists.org/portugues/marx/1876/mes/macaco.htm 
IASI, Mauro Luís. Ensaios sobre Consciência e Emancipação. 2ª edição. São Paulo: Expressão Popular, 2011
MARX, Karl & ENGELS, Friederich. A Ideologia Alemã. Tradução Álvaro Pina. São Paulo: Expressão Poular, 2009 
MELLO, Zuleide Faria. Atualidade do Marxismo (uma aula). Brasília: Edições Alva, 2004
NETTO, José Paulo & BRAZ, Marcelo. Economia Política: uma introdução crítica. 2ª edição. São Paulo: Cortez, 2007 (Biblioteca básica de Serviço Social, Vol. 1)
 



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